Às luas-crescentes, ofereço textos perdidos do meu arquivo.
A ideia é iniciar um processo de catalogação das palavras perdidas que já joguei por aí e ganharam o mundo através dos olhos de alguém, entre cartas, crônicas, emails, artigos em congresso, resumos, trabalhos acadêmicos, projetos culturais, textões no face, entre tantas outras plataformas.
Enquanto organizo meu arquivo, relaxe fique à vontade: a casa é sua para olhar em volta e ainda me dizer o que achou - sim, sua opinião é bem-vinda neste quadro.
Ao menos por enquanto.
O plano é enviar as edições “Crescentes” somente para assinantes a partir de 2025.
Sem mais delongas, boa leitura!
Escrito em setembro de 2016, aos meus 21.
Eu poderia ser a menina cantada pelo Raça Negra, toda cheia de manias, apesar de não ser uma barra gostar de mim. Dependendo do ponto de vista.
O fato é que eu e minha boa memória cultivamos traumas, manias e alergias.
Espero por decepções, não suporto nem o cheiro de Passatempo porque a minha irmã comia o tempo todo na infância e tenho urticária quando entro no mar.
E assim segue a coleção.
No seguir da vida, soma-se também algumas tendências megalomaníacas, vontade de fazer tudo ao mesmo tempo e cobranças por todos os lados.
Vou espalhando em mil caderninhos e notinhas adesivas as funções do dia, da semana, do ano e anotando telefones, valores, responsabilidades e lembretes.
Loto páginas e mais páginas de projetos.
No final do dia, me sobra pouco tempo para colocar os pés para cima sem pensar nas planilhas e cronogramas que eu ainda preciso fazer.
Depois de tanta coisa acumulada nessa cabecinha complicada de Hyrlla Tomé, as pequenas coisas boas dos dias vão sendo ofuscadas, e acabam surgindo uns dias mal-humorados, um atrás do outro.
Mas quem tem amigos tem tudo, não é, mesmo?
Algumas das pessoas mais maravilhosas da minha vida me deram um caderninho no meu último aniversário, encheram as primeiras páginas de desenhos e recadinhos e já me alertaram: “Esse é o seu caderninho de coisas boas! Não vale colocar nenhuma preocupação aqui dentro”. Fiquei encantada.
Já colei uns bilhetinhos, ingressos, lembrancinhas de coisas boas.
Fiz umas listas de séries que eu já vi e shows que eu já fui e separei umas páginas para uns rabiscos aleatórios.
Mas foi na semana passada que eu comecei o maior desafio desse caderninho: a lista “365 DIAS DE COISAS BOAS”.
Mesmo com a cabeça funcionando a mil por hora, sempre acreditei que em todos os dias acontecem coisas mágicas que, muitas vezes, a gente não dá atenção.
Apesar do mundo ser meio bosta, vez outra acontecem coisas boas.
Amigos te fazem gargalhar, você faz cócegas em alguém especial, um pôr-do-sol colorido te pega de surpresa na saída do trabalho.
É disso que se trata a maravilhosa lista “365 DIAS DE COISAS BOAS”: deixar registrado as coisinhas pequenas, os detalhes do dia que foram capazes de me tirar um sorriso ou me deram paz, em meio a tanta confusão e correria.
Já anotei sobre tentar ser estofadora, ser um terrível fiasco, mas fazer a alegria da galera com a cena.
Sobre fazer as pazes.
Sobre perder medos.
Sobre aprender coisas novas.
É bem verdade que tem dias que é difícil achar alguma coisa para registrar, afundada em dias de rotina monótona. Ou dias um pouquinho mais cinzas.
Aí que vem o desafio: muitas vezes, é preciso sair da zona de conforto para criar situações novas que resultem em sorrisos.
Coisas mágicas acontecem, mas é preciso ter os olhos treinados e atentos para enxergá-las.
Para fermentá-las e fazer com que contaminem o resto do dia.
E assim, vivendo mágica por mágica, dia após dia, eu reduzo a minha coleção de traumas e aumento a minha mais nova coleção: a de coisas boas.
Aceitas con-texto?
Trago aqui mais um texto publicado no meu bloguinho “umas hyrllices online”, bem alimentado entre 2015 e 2017.
O tal caderninho se perdeu em uma das cinquenta mil mudanças que fiz desde então, mas não se perdeu na minha memória: era um caderninho simples, sem nada na capa, só um papel pardo de gramatura pesada, com um elástico pra fechar.
Páginas sem pautas.
Costurado.
Apertei a letra e anotava dia a dia, bem pequenininho, algo que tinha sido bom nos dias.
Caso você esteja se perguntando, não, não cheguei aos 365 dias.
Mas me deu uma baita vontade de tentar de novo, talvez em uma notinha no celular, todo dia antes de dormir, sei lá. Desafio você a ter essa constância também, vê aí no teu dia se você consegue ver algo bom nos teus dias, algo pra além de existir.
Oito anos depois desse texto, já não consigo parar de ver a magia acontecendo no cotidiano, do mesmo jeito que eu não consigo mais listar os shows que assisti. Foram inúmeros. Tantos festivais, inferninhos, shows que eu produzi.
E o encantamento segue.
Tanto é que escrevo essa edição apressada: hoje tem show do boogarins na casa em que meu amor trabalha e eu ainda espero fazer mercado antes de ir.
A coisa boa de amanhã eu já conheço: um dia de descanso, amor, preguicinha sem sair de casa e cozinhar comida gostosa.
Te deixo com a esperança de dias bons por aí. E com plantas que curam: